Tal como a maior parte das aldeias dos concelhos do interior de Portugal, Santa Valha também se dedica à agricultura, hoje em dia, parte dela, mais para consumo das famílias.

A excepção é o vinho, o azeite e a apicultura, esta última, mais recente, que vêm ocupar as três principais actividades agrícolas da nossa terra, contribuindo, deste modo, para o necessário sustento económico dos nossos agricultores.

Para os apoiar, existem duas cooperativas agrícolas no concelho, destinadas à recolha, transformação e comercialização destes produtos, que são elas: a Adega Cooperativa de Valpaços e a Cooperativa de Olivicultores de Valpaços. No tocante à actividade do mel, apesar deste sector estar em expansão, presentemente no nosso concelho ainda não existe nenhuma associação, obrigando os apicultores a associarem-se e a pedir ajuda a associações de concelhos próximos.

Neste sector primário, o nosso vinho marca a diferença no concelho e região transmontana, não só na excelente qualidade do néctar, devido ao micro-clima e castas existente, como também, ao nível do elevado grau alcoolémico ou alcoólico “ 17,5 - recorde atingido outrora na Quinta da Teixogueira ”. Posteriormente e de acordo com uma informação da Adega Cooperativa de Valpaços houve em 1976 ou 77, um registo de grau alcoolémico em mosto de 16,1 pertencente á ex-associada Alice Teixeira Neves de Santa Valha (uvas da vinha do lugar da Pedreira, se bem que também o grau das uvas das suas vinhas do lugar do Salvante também se aproximava).

A criação de gado bovino e ovino é actualmente quase inexistente. Esta actividade agro-pecuária e pastorícia foi muito abundante no passado, mas actualmente só existem meia dúzia de famílias que se dedicam a esta actividade em toda a freguesia. Também o sector da produção de madeiras e cortiça está reduzido ao mínimo, devido sobretudo aos constantes incêndios florestais que temos sido sujeitos.

Por outro lado, um sector em crescimento é o da produção de mel, se bem já atravessou melhores dias como diz o nosso povo, devido sobretudo à doença e morte de abelhas e até de colmeias inteiros que se tem registado nestes últimos anos, justificação desconhecida na maior parte pelos especialistas na matéria. Mesmo assim com todo este factor negativo, é de salientar a produção registada pelos jovens apicultores da freguesia que já contribuem anualmente para o sector produtivo alimentar, com cerca de 12 toneladas deste produto, pondo de lado os velhos cortiços, e investindo em colmeias e outro material de maior rentabilidade. Disseram-nos todavia, que há três ou quatro anos atrás esse registo de produção chegou a ser superior, tendo em conta que ainda não havia tanto prejuízo nos colmeais e com anos mais favoráveis para a criação e desenvolvimento destas espécies.

Actualmente na nossa freguesia existem ainda outras actividades económicas de pequena dimensão, com bastante importância, tais como:

Industria:

Mármores e Granitos.

Serralharia Civil.

Carpintaria Mecânica e Serração de Madeiras.

Construção Civil (Prestação de Serviços).

Comercio e Serviços:

Produtores e Engarrafadores de Vinhos com Marcas Registadas:

Nuno Miguel Fernandes Neves: Vinhos “ Terras do Salvante ”.

Mário João Pires: Vinhos “ Edyma ”

Quinta do Sobreiró de Cima Sociedade Agrícola e Comercial, S.A - “ Vinhos Santa Valha e Outros”.

Café/Bar “do Rui”.

Café da Associação do Rancho Folclórico.

Prestação de Serviços de Aluguer de Máquinas Agrícolas e Outras (vários).

Armação de Andores.

Extracção e Comercialização de Cortiça.

Venda de madeiras e lenha transformada.

Tosquiação/Tosquiadores de Gado Ovino.

Lazer:

Turismo Rural de Habitação: “Quinta dos Ciprestes”

Plano e Apoio Social:

Existem várias casas de famílias de acolhimento de idosos.

Pese embora os cuidados de saúde do estado não estarem inseridos no sector produtivo económico, em Santa Valha também existe, desde 1986, um “Posto de Atendimento Médico, instalado na Casa do Povo/Sede da Junta de Freguesia, que serve também outras freguesias próximas, com as valências de consultório/atendimento médico, enfermeiro e analista. O período de funcionamento é de dois meios-dias por semana para o serviço médico e enfermagem, e de uma manhã, para o analista, caso se justifique.

Vai para dois anos que se continua a aguardar que a todo o momento  que o Posto Médico seja transferido para as novas instalações situadas na reconvertida e/ou requalificada antiga escola primária, onde, uma das partes se destina a esse serviço, e a outra metade, a uma sala de apoio ao Centro de Dia para Idosos, que também aguarda vai para dois anos e, do mesmo modo, a respectiva inauguração, da responsabilidade da Administração Regional de Saúde Norte (ARS) e do Centro Regional de Segurança Social (CRSS), respectivamente. Tanto a Junta de Freguesia como a Câmara Municipal que investiram bastante dinheiro nas obras, apesar dos inúmeros esforços de ambas, não conseguiram até ao momento, resolver este caso, que dizem ser da actual crise económica e financeira que estamos a atravessar, particularmente por parte da CRSS, já que da ARS não existe justificação para esse motivo.

Até Junho de 2009, existiu na nossa aldeia uma farmácia denominada “Farmácia Almeida e Sousa”. Esta actividade farmacêutica de elevado interesse para a saúde local e vizinha, e até mesmo económica, encerrou para se transferir definitivamente para a nossa sede de concelho, Valpaços. De 13-03-1989 a Julho de 2009 existiu um Posto de Venda de medicamentos da Farmácia Paula, com sede também em Valpaços.

Santa Valha, Site: 28/07/2013.

 LAGARES DE AZEITE: actividades económicas que se perderam…,

                Antes da década de 1960, chegaram a laborar em Santa Valha quatro lagares de azeite: dois artesanais, de reduzidas dimensões, puxados por animais, pertencentes à casa dos Ciprestes e ao Senhor João Ribeiro,  e dois industriais, pertencentes ao Srs. Raul Videira  e Manuel do Nascimento Barreira (todos já falecidos) . Contudo, só a indústria transformadora do Sr. Manuel Barreira, a laborar no bairro dos Ciprestes, permaneceu em actividade, ou seja, até 1996, poucos anos após o seu falecimento.

                 Essa indústria chegou a laborar mais de sessenta anos. Foi vendida em 1952 ao Sr. Barreira, pelos Srs. Raul Videira e cunhado Vasco Proença. Possuía cerca de 800/1000 metros quadrados de área, tinha perto de 150 clientes e em média transformava 8/10.000 kg. de azeitona diária, dobrando quando se tratava de funcionar em dois turnos.

                 O encerramento aconteceu por vários factores: questões pessoais, falta de disponibilidade da família (filhos e genros possuírem empregos fixos e estáveis), e porque a partir dessa data, as exigências por parte  do Estado no modo de laboração dos lagares tradicionais, sofreram grandes alterações, quer a nível de novas obras para melhorar a higiene, quer em maquinaria e outras tecnologias e, sobretudo, no tratamento obrigatório dos resíduos e efluentes, designados por águas-ruças , dessas unidades industriais, etc.. Mesmo com o apoio do Estado para esse investimento, os herdeiros fecharam as portas. Também o acidente de viação em 1994 do filho mais novo, (que o tornou tetraplégico), o Paulo,  que tinha tomado as rédeas da actividade agrícola após a morte do pai, veio contribuir de todo o modo para o encerramento definitivo. Todavia, esse trágico acidente que vitimou este  jovem,” no auge de sua juventude”,  veio contribuir para que  a nossa aldeia ficasse mais pobre, pois,  deixou de contar,  em todos os sentidos, com menos uma força viva e activa na terra.

                Foi uma actividade económica  muito importante na nossa freguesia. Os nossos lavradores, não necessitavam de se deslocar a outras freguesias para fazer o seu azeite e o mais importante é que dava emprego permanente durante três meses a 6/8  homens diários (chefes de família), dobrando quando funcionava com dois turnos. Dependia sempre da azeitona colhida nesse ano, mas a média era essa. A maior parte das vezes laborava 24 horas diárias com dois turnos. Os lucros eram relativos; dependiam sempre da safra (colheita) e eram pagos em maquias: 10 litros, por cada 100 litros até à década de 1970, 12 litros entre 1980 e 1990 e só ultimamente 15% “litros”. Quem pretendesse, poderia também pagar as maquias em dinheiro.

                Os lagares de azeite tradicionais no nosso concelho/região têm infelizmente desaparecido, embora alguns tenham sido recuperados para manter viva a memória ou para outros fins turísticos. É pena que este lagar, não tenha o mesmo fim, mas aproveitamos para deixar uma mensagem à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal,  para saber da possibilidade da sua aquisição, tendo em vista a  recuperação deste património cultural e, posteriormente, enquadrá-lo nas futuras Rotas do Azeite, como promoção e valorização deste bem , - que é o nosso azeite - , já reconhecido internacionalmente como dos melhores do mundo.

 Modo de transformação deste lagar:

 

                Os agricultores/lavradores enviavam a azeitona ensacada (sacos de 50/60 kg ou até mais) para o lagar. Era guardada num reservatório, ou, mais propriamente, numa lavandaria. Aqui era retirada dos sacos e posta numa pequena máquina de lavagem que a transportava directamente para o moinho, através de um tapete rolante com “alcatruzes”.

                O moinho era formado por três pedras enormes em forma de peão. Em movimento constante as três pedras moíam a azeitona, transformando-a numa massa mole. Essa passava para uma batedeira onde era aquecida (caldeada) aproximadamente 15 a 20 minutos. Depois passava por um aparelho chamado senfim e deste para o maceirão, que era uma espécie de contentor com cerca de 50 cm de altura, também conhecido por pio da moenda.

                O tempo de duração do esmagamento da azeitona era variável, bem como a quantidade de azeitona a moer. Conforme o estado de maturação do fruto, eram administradas pequenas quantidades de água quente para promover um esmagamento mais eficiente da azeitona.

                De seguida era necessário que um carro (sobre carris) transportasse as seiras/capachos (espécie de tapetes redondos). Neles um homem espalhava a massa, manualmente, retirada do maceirão ou pio da moenda,  e colocava-os, uns por cima dos outros, totalizando 40 a 50 capachos, que depois iam à prensa.

                As pensas hidráulicas eram quatro. Nelas, os capachos eram comprimidos, através de um termóstato que teria de chegar a uma pressão de 380 kg por cm2. Este processo tinha a duração de 30 a 40 minutos. Durante essa operação a massa líquida ia caindo para uns recipientes chamados por tarefas, em forma de água-russa (churra). Por sua vez, essa água era caldeada através de tubos para passar à fase final  que consistia na separação da água, do azeite. Operação essa feita através de um aparelho chamado centrifugadora, vulgarmente conhecido por filtro, que tinha por objectivo lançar para um recipiente o azeite já puro, ou seja, sem nenhuma água. A seguir era medido e envasilhado.

                 Havia o Inferno ou Ladrão, que era um pequeno tanque – escondido -  onde era recolhido, “também por decantação sucessiva”, o azeite que não se conseguiu extrair no processo de decantação e que ia junto com a água--russa (churra). Esse azeite era de inferior qualidade. Esse tanque situava-se perto do filtro.

                Também a Caldeira, “Fornalha ou Calorífero”, como alguns lhe chamavam. Funcionava e aquecia a água com baga da azeitona depois de extraído o azeite e retirada dos capachos. Para além de aquecer a água usada na moenda, na prensagem e na decantação(tarefas),  também servia para a confecção de alguns petiscos. Quem não se lembra do pão de centeio torrado na fornalha, regado com azeite saído do filtro !?

                Após a prensagem, a baga extraída dos capachos era depositada numa divisão própria, que servia mais tarde para adubar as propriedades agrícolas. Ultimamente era enviada pelo Sr. Barreira para uma industria transformadora situada nos Leirós, no concelho de Mirandela, para extracção de óleos, retirando daí alguns proveitos.

                Inicialmente esta unidade transformadora possuía unicamente um pequeno moinho em ferro, onde duas pedras de formato cilíndrico esmagavam a azeitona. Após a  aquisição pelo novo proprietário, este, investiu logo e de imediato na ampliação das instalação e no novo sistema de moagem atrás referido, tendo em vista maior capacidade de transformação. Também a chegada da luz eléctrica veio contribuir para esse investimento, ficando o moinho antigo para aproveitamento de segunda prensagem de “baga” menos moída, saída dos capachos de lagares artesanais, com vista a extrair azeites e/ou óleos de mais graduada acidez, não recuperados na primeira prensagem. Essa “massa “, à qual era adicionada água quente,  ao sair do moinho, era prensada num aparelho chamado de cincho ou “espicho”, transformando-se em água-russa (churra), seguindo posteriormente para as tarefas. Esse processo de extracção já havia há muito tempo deixado de funcionar.

                Até à chegada da luz eléctrica, - início da década de 1960 -, as máquinas deste lagar eram movidas por correias, accionadas por um motor a gasóleo, que também gerava electricidade para iluminação própria.

                Desconhecemos o motivo ou “porquê !? “ de várias  pessoas – de então - da nossa aldeia,  chamarem a este lagar de Tramagal, já que esta palavra, significa,  unicamente,  o nome de uma localidade – Vila – da  região do Ribatejo,  que pertence ao Concelho de Abrantes, onde existe(em), indústria(s) de fabricação de máquinas e peças para os lagares de azeite. Já “Prensa”, como outros lhe chamavam, tem algum sentido.

Santa Valha, Maio de 2009