MEMÓRIAS E DATAS QUE MARCARAM VÁRIOS ACONTECIMENTOS NA NOSSA TERRA

 

Coisas e Gentes da Nossa Terra

 

Comércio, Indústria e Serviços:

 

Comércios, Tavernas e Cafés:

Outrora era nos comércios, a maioria deles com tavernas mistas, que os jeireiros em dias de chuva e invernia se refugiavam para beber uns copos e jogar cartas. Eram as suas férias como se costumava dizer, porque pouco ou nada mais havia para passarem o tempo. A economia local proveniente do produto da lavoura era muito próspera, onde o vinho e o azeite desde sempre marcaram a diferença atendendo particularmente à sua excelente qualidade.

Para além do variado negócio nos comércios e tavernas que se fazia, chagaram a existir noutros tempos na nossa aldeia quatro lagares de fazer o azeite, dois artesanais e dois industriais e isso vinha a traduzir-se na economia ao longo do ano a par do produto da vinha que era o mais forte, não esquecendo todavia a receita da prestação de serviços que a lavoura dava anualmente.

A existência de tantos comércios e tavernas espalhados pela aldeia era o sinal dessa tão próspera fonte de receita de outros tempos.

A última casa aberta com comércio e taverna “misto” pertenceu a Victor Teixeira Neves, mas já com o filho Rui à frente do negócio. Encerrou em 1987 para demolição das instalações, tendo em vista a abertura da actividade de café no imediato, mais tarde a complementar com habitação no primeiro andar.

A essas antigas pequenas casas de negócio rurais o povo costumava chamar-lhe popularmente: soto ou sótão, loje(a) e tasca, assim como dizer, por exemplo, a seguinte frase: vai ao soto “mercar” um quartilho de petróleo para a candeia etc., etc. Poucos eram nas aldeias os que lhe chamavam mercearias, dado venderem de tudo um pouco.

Como já atrás referi sempre existiram neste último século (XX) bastantes comércios, quer mistos com lugar de taverna, quer só de negócio de pequeno comércio a retalho, tal como o de Lafayette Alves de venda de fazendas, chapéus, boinas, meias e várias outras miudezas e ainda algum material escolar, como, por exemplo: sebentas, lápis, borrachas, lousas, penas e bicos (aparos) e tinta para os tinteiros que encontravam  colocados nas secretárias da escola. Também o comércio “loje”, da Srª. Cândida … “da Loje”, como era mais conhecida (sogra de Manuel Guedes), situado num baixo da sua casa, herdada de seu marido Amândio “Ferreira?”, neto do “Cego da Coutada”, imóvel que mais tarde Fernando Alves também veio a adquirir para dar lugar à sua actual habitação.

 A grande maioria desses comércios existiram no bairro dos Ciprestes, tendo chegado mesmo a haver um no cimo do bairro, no baixo da casa do falecido Fernando de Castro, (pai do Luís, António, Zé ….) e ainda no mesmo local, um talho (Açougue) de Amadeu Moreiras (Pedreiro), entre outros vários lugares, assim como numa dependência da casa dos Videiras, um comércio (grémio) de produtos para a lavoura e venda de pão.

Também no cimo do bairro do Sobreiró, mais concretamente junto ao largo e no rés-do-chão de uma casa dos herdeiros de Laudemira da Conceição Ferreira da Cunha (Cagigal), mesmo em frente à casa de Gilberto Cardoso, existiu, por volta de 1925, um comércio taverna, pertencente a Antero Augusto Cagigal, avô materno de Amílcar Rolo, mais conhecido por “Lilo”. Às pequenas tavernas o povo também lhe chamava de tasco/tasca ou ainda tarasca.

Últimos Comércios/Tavernas: Adelino Melo Alves, herdado do sogro Francisco Santos (Xico V(b)olante); Adelaide Astorga; António Teixeira e Victor Teixeira Neves. Também duas funerárias incorporadas no comércio, de Arnaldo Domingues (Augusto Simão) e Adelaide Astorga; pensamos terem abandonado este negócio no final da década de 1960, ou início de 1970. Nesse tempo, os caixões eram forrados e embelezados pelos próprios comerciantes e as grinaldas de flores de plástico, eram alugadas para funerais à unidade. Algumas, de tanta utilização já se encontravam sem cor.

Antes da década de 60, na rua que vai dar aos Ciprestes, mais precisamente nos baixos das casas de agora Lucinda Cardoso e Álvaro Sarmento Afonso, existiram dois comércios com tavernas, que pertenceram aos falecidos Armando Tender e António Teixeira. No terraço de Armando Tender, da mesma casa (comércio) agora de Lucinda Cardoso, a primeira placa de cimento e areia a ser construída na nossa aldeia com esses materiais, costumava-se fazer-se uns bailaricos com toque de grafonola pertencente a António Ribeiro, do bairro dos Ciprestes, pai de Zé Ribeiro, Quim, Augusta, entre outros. Também existia nessa mesma altura a grafonola da Srª. “Quinha Pimpona” do mesmo bairro, tia do José (Zé) Pimpão. Esses dois aparelhos musicais foram por eles trazidos do Brasil, local onde residiram temporariamente como emigrantes.

Ouvi ainda dizer que, antes da década de 20 ou 30 (século XX) na antiga casa do falecido Dr. Luís Lopes, agora de Maria Raquel Barros Alves, existiu lá um comercio de uma pessoa chamado  “ Salvador”. Assim como também, antes da década de 50, no baixo da casa do falecido Sr. João Contins, no bairro do Sobreiró, perto da curva das Adufas, chegou lá a existir também um comércio de João Lopes e,  um pouco mais tarde, um talho em sociedade com Adolfo Domingues (Simão) e Benjamim Picamilho.

Como ainda não havia luz eléctrica na altura, só inaugurada em 28 de Abril de 1967, para refrescar as bebidas (laranjadas Flávia e o vinho servido ao copo), quase todas essas tabernas, tinham, por debaixo do balcão, um mini poço, de aproximadamente um metro de profundidade e com areia molhada de água da fonte. Os primeiros frigoríficos a electricidade (conhecidos por geleiras) na aldeia foram os das tavernas de António Teixeira e Victor Teixeira Neves, adquiridos após o aparecimento da luz (1967), e primeiro particular também a electricidade, foi o da casa da (falecida) Laudemira da Cunha (Cagigal), no Br. do Sobreiró, em 1968. Anteriormente houve um a funcionar a petróleo, que pertenceu a Amândio Lopes.

O primeiro Minimercado e Café contíguo abriram as portas por volta de 1973/1974. Pertenceu aos irmãos,  Domingos e Fernando Mosca Pires. Mais tarde, Adelino Melo Alves, também instalou  mercearia e café, onde mais tarde, o negócio da parte do café veio a ser alugado por pouco tempo  a Carlos Atanázio e Aniceto Vaz. Seguiu-se José Maria Maia Gaspar,  no baixo de Stª. Maria Madalena, na casa do Tio Manuel Augusto, perto do cemitério; posteriormente essa casa e actividade comercial, nomeadamente café, foi de Manuel  Augusto, José Ribeiro e Manuel Contins. Depois de José Maria, também Simão Domingues e depois Paulino Vergueira tiveram uma breve passagem de aluguer desse espaço.

Nesse espaço, aberto  e explorado por José Maria Gaspar (de  Abril de 1978 a Novembro de 1980), existiu um café com salão de jogos e discoteca, conhecido localmente por “Bataklam”, mas tudo a funcionar legalmente; a discoteca funcionava aos sábados com música de aparelhagem e em alguns domingos chegou a contratar bandas de música (conjuntos) que normalmente vinham de chaves, a maior parte delas constituídas por amigos com quem tinha estudado. Rui Manuel Pereira Neves, que anteriormente teve negócio de comércio e taverna, vindo já do tempo de seu pai, abriu a actividade de café e salão de jogos em 28 de Dezembro de 1988. O café, e, mais tarde, pequena mercearia contígua de Fernando Alves, perto da igreja, encerraram na década de 90. O último café a abrir portas, final da década de 90, foi de Fernando Barreira, no largo das Adufas.

O Minimercado que pertenceu a Domingo Serafim Mosca Pires, ultimamente chamado de “Minimercado Dias”, encerrou definitivamente em 28 de Fevereiro de 2012 e o Minimercado de Adelino Melo Alves, ultimamente chamado de Minimercado “Mário João Pires/Edite”, encerrou definitivamente em 30 de Novembro de 2012. O fecho definitivo destes pequenos comércios “tradicionais” deveu-se à falta de negócio para suportar as despesas, face à falta de gente na freguesia e ainda e sobretudo, à abertura das pequenas e grandes superfícies que abundam no concelho e limítrofes, registadas nos últimos anos. Com o fecho definitivo do Minimercado de Mário João, a comunidade da freguesia deixou de ter quaisquer possibilidades de fazer compras. Em 29 de Novembro de 2014, Carlos Vieira e mulher Marlene abriram as portas de mais um Minimercado, desta vez nas instalações da ex-Famácia na Avª. Principal. De referir ainda que no verão de 2013, a companheira de Valdemar Cardoso abriu um pequeno salão de cabeleireira de homens e senhoras – misto-  no baixo da habitação - ex-antigo comércio de miudezas - da agora rua do Vilar que vai dar ao bairro dos Ciprestes, denominado “Cabeleireiros Cecília Ferráz”.

Por volta de 1955, chegou a existir no Bairro dos Ciprestes, mais propriamente no largo do Largar/Prensa do Azeite, numa dependência, da agora casa da família do falecido senhor Arnaldo Domingues (Augusto Simão), um estabelecimento comercial, conhecido nessa época por “Café”. Esse espaço comercial, pertenceu anteriormente a Manuel Fontoura, conhecido respeitosamente por “Manuel Broxas”, que veio passado pouco tempo a trespassar a Francisco Barreira, conhecido também por “Chico da Elsa”, com a filha Natália à frente do negócio.

Nessa mesma casa de bebidas (onde na padieira de pedra da porta principal está esculpida a data de 1779) iluminada ainda por candeias ou candeeiros a petróleo ou azeite, o Café, era feito ao lume numa chocolateira de barro ou pote de ferro, e a música para os bailaricos era  tocada por grafonola a corda, com discos em vinil, de setenta e oito e quarenta e cinco datações, que dizem ter pertencido ao falecido Senhor António Ribeiro  do mesmo bairro, já anteriormente identificado. Muitos anos mais tarde apareceram os discos em vinil mais pequenos de trinta e três rotações, mas já para gira-discos a pilhas e a luz eléctrica.

Também, num pequeno espaço dessa mesma casa, ainda hoje conhecido por algumas pessoas por “escritório”, mesmo em frente à porta principal do Lagar do Azeite (Tramagal), chegou a funcionar até ao início do século XX (1915/1920 ?), um Posto de Conservatória de Registo Civil, para registo de nascimentos, óbitos, e casamentos das pessoas da nossa freguesia e outras vizinhas. As pessoas encarregues do acto, penso que, com alguma remuneração do Estado, eram os próprios donos da casa, família dos Videiras, na altura conhecidos como “ Ajudantes do Registo Civil ”. (Nota: ler facto referido na íntegra noutro espaço.)

 

Moagem de Farinhas:

A fábrica de moagem da nossa aldeia de farinhas era na rua dos Ciprestes do mesmo bairro. Iniciou a actividade por volta de 1960. Era movida por um motor a gasóleo marca “Lister”. Pertenceu inicialmente a Manuel Fernandes, também conhecido na altura por Manuel “Peste”, e posteriormente ao Professor Carolino Augusto Afonso. Fechou a actividade no início da década de 1970. Nessas instalações ainda se chegaram a realizar, para além de alguns bailes domingueiros, várias actividades culturais, tais como, teatro e circo. Ainda há quem se lembre da peça teatral “ Amor de Perdição”. Mais tarde, chegou a ser habitação no primeiro andar.

Há ainda quem se recorde de algumas (pequenas) peças de teatro e circo ambulantes que se realizaram até finais da década de 40, numa de dependência de armazém, propriedade na altura de Francisco Santos “ Xico Bolante, sogro de Adelino Melo Alves, onde actualmente se encontra a sua casa de habitação e Mini-mercado. Outras ainda, nas dependência da Abadia ou Casa Paroquial.

 

Moinhos (de Rodízio) e Açudes

O moinho movido a água foi criado há mais de dois mil anos, e ao ser difundido pela Europa durante a Idade Média, provocou uma verdadeira revolução industrial. Foram os árabes que trouxeram a técnica dos moinhos para a Lusitânia, terra que mais tarde originou Portugal. A farinha produzida com as mós de pedra não era refinada, era natural, e faziam um pão muito mais gostoso e saudável do que o de agora, atendendo à mistura de farelo que possuía.

No nosso ribeiro do Calvo, vulgarmente chamado de “rigueiro do Calvo” e outras ribeiras da freguesia, chegaram a existir mais de uma dúzia de moinhos de moer cereais nomeadamente centeio e milho, e muitos mais açudes, que não só os faziam mover, como serviam também de regadio. Durante muitos séculos, moeram e foram e foram espaços com muitas recordações. Trata-se de um património cultural onde o nome e a sua história já está a ser perpetuado e que deveria ser preservado, não só pelas entidades públicas, como também pelas particulares ligadas ao sector do turismo. Infelizmente, a grande maioria, já está, ou ao abandono, ou ainda em ruínas associados ao furto de peças e pedras que compunham o património.

Os moinhos e açudes mais importantes de que nos recordamos foram três e quatro. Dois deles perto das Casas abandonadas do Calvo, denominados por moinho do Marcelo, moinho do Francisco Barreira, conhecido por “Chico da Elsa” e cunhado, onde muitos anos trabalhou e viveu com a esposa e filhos (início década de 1960) o falecido Alberto Santos, também conhecido por Alberto Moleiro, e um outro, de maior referência, mais abaixo, junto à ponte da estrada, pertencente aos falecidos Jaime Nogueira e esposa Palmira da Graça Costa, esta, conhecida na freguesia por Palmira “Moleira”, falecida em 25/12/2008.

Esta indústria de enorme valor e importância de outros tempos foi adquirida por Jaime Nogueira a Vasco Proença, casado na família Videira, por volta da década de 40 ou 50 do século passado (XX). Chegou nessa data a possuir um motor a gasóleo de marca “Lister” para fazer mover, com ajuda de uma correia, a pedra de uma das mós em algum  período mais seco da estação do verão, facto raramente existente nas indústrias do género da época no nosso concelho e até mesmo na região. Esse motor ficava instalado em cima de uma fraga logo a seguir às bocas da saís da agua.

Na pedra da padieira da porta deste último moinho, encontram-se algumas datas gravadas na pedra, como o ano de 1893 e, por baixo deste, em numeração romana, o ano de MDCCLXXX (1780). Nas superfícies frontais das ombreiras estão gravadas, à esquerda, uma pequena cruz e, na da direita, uma cruz, o ano de 1867 ou 1861 e, abaixo deste, de um ou outro lado de outra cruz, o ano de 16+38 (18+38?).

Esta última família acima referenciada tinha os aposentos da habitação dividida com o moinho  e uma pequena casa quase contíguos, incluindo  forno de cozer e outras divisões para os animais domésticos etc., mesmo junto à ponte,  a uns escassos metros do moinho. Foi lá que criaram os seus filhos até à idade adulta, tendo sido  uma família muito  trabalhadora, humilde, honesta, respeitada, e de que toda a gente gostava. Dado o falecimento do marido, a Srª. Palmira, passados um ou dois anos (1968/1970?), abandonou a habitação e o moinho, e passou a residir na aldeia.

Do moinho, apesar da enorme degradação, ainda é possível ver algumas coisas importantes, como os três cubos da entrada da água, a imponência das três caldeiras e restante estrutura. O telhado já não existe, bem assim como algumas outras importantes peças. Relativamente à casa de habitação e dependências, já não existem qualquer vestígios, em virtude da demolição por volta de 1997, quando da última intervenção do alargamento da estrada e do tabuleiro da ponte.

As “Maquias” que normalmente eram cobradas pelos moleiros eram as seguintes: 1 kg. Por cada alqueire (12 kgs.). O cereal e a farinha depois de moída, eram transportados pelo moleiro num burro, de, e para casa dos fregueses.

Ouvi dizer que o último moinho a moer cereais foi o do Marcelo, até finais da década de 1970 ou princípio de 1980. Também as açudes, denominadas por Açude da Moleira e, mais abaixo, açude do Barrosão, serviram até ao início da década de 1980 de banheira e piscina de manutenção ao pessoal da aldeia. Nessa época o ribeiro do calvo nunca secava e era muito abundante em peixes, nomeadamente de escalos, dos melhores da nossa região. Em frente à  descarga da água que saía para o rodízio de mover as mós (pedras) existiam sempre bons cardumes de escalos, tendo em conta que na corrente havia aí sempre que comer, particularmente restos de farinha e até alguns grãos que caíam do interior do moinho para a água.

Nos livros (Volume I e II) “Moinhos de Rodízio e Azenhas”  do Dr. Adérito Medeiros Freitas – Edição da Câmara Municipal de Valpaços de 2009 – refere e descreve pormenorizadamente a maioria  dos moinhos existentes na nossa freguesia. Pelas nossas contas existiram outrora no nosso ribeiro do Calvo e outras ribeiras de Stª. Valha e Pardelinha, mais de uma dúzia de moinhos de moer cereal. No termo da anexa do Gorgoço só existe um moinho no lugar denominado por “Coutada de Baixo ou Leloto”, mas já em ruínas, que pertence aos herdeiros de Laudemira da Conceição Ferreira da Cunha “Cagigal” de Stª. Valha.

Algumas peças do moinho: Cubo; Seteira com fecho; Rodízio com penas; Pela ou vela; Espigão ou aguilhão; Rela, Zorra ou urreiro; Alavanda da agulha ou aliviadouro; Pejadouro; Lobete; Veio Metálico; Buchas; Segurelhas. Agora do moinho propriamente dito ( rés-do-chão): Plantaforma de alvernaria com cerca 80 cm de altura; Mós; Dois Cambados ou Cambeiros ( um de cada lado da mó andadeira); Moega; Caleira ou quelha; Chamadouro; Tremonhado; Alavanca da agulha ou aliviadouro; Comando do pejadouro e Regulador da moagem. Utensílios existentes nos moinhos: Martelo; Pá pequena de madeira para apanhar a farinha; Picos para picar as mós; Sachola; Tranca afiada na ponta para movimentar o aliviadouro; Tranca forte para levantara mó andadeira para ser picada e Vassoura pequena.

Nota: As peças e utensílios que aqui referimos foram colhidos junto do Site:  ( http://moselos.no.sapo.pt/moinhos.htm#moinhos ). Quem estiver interessado em identificar melhor estas peças e saber o seu significado e funcionamento, aconselhamos a visita a este espaço na Net, da localidade de Moselos.

 

Adivinha do Moinho:

Mastigo, mas não engulo,

Ando e não venço caminho,

Sustento os meus, quando bulo,

Dentro do meu pobre ninho.

 

Fornos e Padarias:

Os Fornos Comunitários de cozer o pão, não eram de ninguém, mas eram de todos. Que se conste, nunca chegou a existir na nossa aldeia, nenhum forno comunitário ou do povo como se costumava dizer. Havia sim, vários fornos de casas particulares, que funcionavam, a maioria, só para consumo próprio, e alguns, também para a população, mas com contra-partida (é claro!), de algum pagamento, que normalmente era em pães de centeio cozidos, conhecidas, na altura, por “maquias”, em que um pão de centeio tinha de peso oito “arrates” e meio pão (bolo), tinha quatro “arrates”.

Fornos artesanais particulares que funcionaram até meados da década de 1970: Br. Sobreiró: Claudina Cardoso (Ribeiro) (conhecido por forno da Tia Maria Vicência), Alfredo Santos e esposa Otília, e ainda, os de Laudemira da Cunha (Cagigal) e Gualdino Nogueira; Pontão: Helena Lobo; Isabel Lampaça;  Benjamim Picamilho (conhecido por forno da Tia Patrocina); Bairro de Stª. Mª. Madalena:  Cândido dos Santos e dos Emilios; Br. dos Ciprestes: Raul Videira, Dª. Margarida e Casa dos Ciprestes; Br. Igreja:  João “Pedrinho” e Casa Paroquial, e, por último, o da casa do Moinho da Ponte do Calvo de Palmira Costa, que também cozia para vender na aldeia, ou quem passasse na estrada.

Como a grande maioria das pessoas não tinham lenha para acender e aquecer o forno, as pessoas iam para os montes, mais propriamente para os lados do Castelo, Monte – cerdeira, Semuro ou Ermitão e Avessada, arranjar molhos de lenha, transportados para casa normalmente à cabeça ou às costas.

 Alfredo Santos, padeiro de profissão, que também era proprietário de um comércio/taverna, vendido em 1964 a Victor Neves (agora Café do Rui), chegou a ter um depósito de venda de pão nesse local até essa data.

No povoado do Calvo, chegou a existir um forno de cozer pão comunitário, e nas casas da  Coutada, um forno e um moinho, conhecido pelo moinho do “Cego da Coitada/Coutada”, estes, só para consumo próprio. A Quinta da Teixogueira, que foi noutros tempos, quinta de Morgados, também tinha forno de cozer particular.

O método de fabrico do pão alterou-se drasticamente e o pão actual não possui o mesmo gosto de outros tempos, uma vez que o tempo de fermentação diminuiu, com consequente perda de aromas. A fermentação ocorre, principalmente, no segundo tempo, produzindo um pão mais volumoso mas de fraca densidade que, em poucas horas, fica duro. No método de fabrico antigo, a massa (velha/dia anterior) do fermento (levedura) era de fabrico tradicional/artesanal, e o pão ficava muito mais saboroso, e de melhor conservação. Também a farinha produzida nos moinhos movidos a água, era bastante mais espessa, do que a de agora, moída nas indústrias das movas tecnologias.

Por volta de 1976 ou 1977, Alfredo Santos, também conhecido por Alfredo “Padeiro”, por já ter exercido essa profissão, acabado de regressar de Angola, onde esteve emigrado, construiu a primeira padaria, localizada na rua que liga a estrada que vai para Sonim, à rua da Freixa. Esta indústria de panificação veio a encerrar alguns anos após o seu falecimento, por volta do final do ano de 1999 ou início de 2000, mas já gerida pela sua companheira, Berta Fernandes, e filhas: Julieta e Ermelinda Fernandes Barrosão.

Em 1986, os irmãos, Paulino e Altamiro Vergueira, construíram em sociedade uma nova indústria de panificação na zona de Entre-as-Águas/Vidoedos , agora bairro, denominada “ Nova Padaria Stª. Valha”, que ainda hoje (2010) se conserva, mas já só com o Sr. Paulino e esposa Lucília, como proprietários.

Obs: Esta (última) indústria de panificação da freguesia veio a encerrar definitivamente portas em 01.06-2013, tendo saído a última fornada de pão dos seus fornos para venda no fim da tarde de 31 de Maio. O encerramento desta importante indústria da nossa terra, que tinha sido inaugurada em 1986, deveu-se á obrigatoriedade imposta pelos serviços do Estado aos proprietários de terem de fazer urgentemente novas obras nas instalações e adquirir alguns equipamentos de valor significativo para as viaturas e sistema informático.

Associado a tudo isto e senão o mais importante, foi a relevante diminuição das vendas nestes últimos anos, devido à actual crise financeira, económica e social que temos estado a atravessar, que dessa forma veio muito a contribuir para o desemprego e desertificação das populações e cuja receita do negócio nestes últimos tempos já não vinha a compensar os gastos com a exploração.

Ontem, tal como ainda hoje (mas bastante menos), continua a haver pessoas que rezam ao fabricar o pão no forno.

Oração (espécie de ritual), de outros tempos e que se conserva ainda hoje no processo de fabrico do pão e do folar artesanais na nossa terra. Depois de amassado é posto a levedar (em lençóis de linho), dividido em porções e faz-se uma cruz, com a mão dizendo:

São Vicente de acrescente,

São Mamede te levede,

São João te faça pão,

Pela graça de Deus e da Virgem Maria,

Padre-nosso e Avé-Maria.

A pessoa encarregada de meter o pão ao forno, faz com a pá três cruzes na porta daquele e dizendo:

Cresça o pão no forno,

E os bens p´ro mundo todo,

Paz e saúde a seu dono.

Pela graça de Deus e da Virgem Maria,

Padre-nosso e uma Avé-Maria.

Nota: Normalmente é sempre a mesma pessoa no forno a rezar estas duas orações. Também há quem as reze de uma só vez, quando o pão se acaba de amaçar, ou seja: antes de levedar.

 

Serradores/Madeireiros e Carpintaria:

 

Em 15 de Fevereiro de 1941 quase todo o nosso país, particularmente a  nossa região transmontana, foi fustigada por um grande ciclone, que, para além de destruir muitos bens, derrubou também inúmeras árvores por todo o lado, nomeadamente as de maior porte: sobreiros, amieiros, pinheiros, entre outras, como, por exemplo: o tão falado soberbo “pinheiro manso ou grande” que existiu até esse tempo junto à estrada para Pardelinha, antiga propriedade da Casa Paroquial/Abadia, conhecida por Cerca, que abaixo também referimos.

Atendendo a esse acontecimento atmosférico, apareceram nesse ano ou no seguinte na nossa aldeia os primeiros serradores de madeiras, entre os quais, Manuel Maia, Deolindo de Sousa e seu irmão, estes dois últimos já com muita experiência na arte e chegados à nossa aldeia um ano ou dois mais tarde, todos eles de origem da região do Minho. Seguiram-se posteriormente os filhos que também coadjuvaram nesses trabalhos. Quer o corte das árvores, quer as madeiras serradas nos montes nas suas várias formas, era ainda e somente feito pelo sistema (artesanal) manual. Recordo-me ainda e perfeitamente de uma estrutura em madeira que eles próprios faziam para suportar os enormes troncos de árvores a fim de serem serrados “á serra ou serrador”, chamavam a essa estrutura que suportava a traseira do tronco  o nome de “burra”. A estrutura que suportava o início do tronco onde era iniciado o corte tinha o nome de “pontais”. Para fazer o corte certo das tábuas ou caibros, etc., existia um fio onde era mergulhado num pó de cor azulado. Os utensílios mais utilizados eram os seguintes: machados, serrões, moço, foições, serra de braçal, cunha, podoa, cordão e a pedra de almagra.

 

     

Contaram-me várias pessoas idosas que a madeira vendida nesse tempo, quer em troncos, quer já serrada, foi transportada em carros de bois pelo caminho bastante sinuoso do Formigoso, passando por Fornos do Pinhal, para um estaleiro junto à (agora) Ponte do Arquinho e estrada ainda em terra que liga a Ponte de Vale de Telhas aos Poçacos. Os lavradores do transporte foram os seguintes: João Francisco Rodrigues “João Morte”, Augusto Rodrigues (Letras) e António Feijão, entre outros(?).

O tronco do tão falado enorme e soberbo pinheiro que existiu na “curva do pinheiro grande”, situado no limite com a antiga estrada para Pardelinha a norte e perto do antigo pombal e mais perto do (agora) depósito da água, ainda no interior da enorme propriedade que chegou a pertencer à Casa Paroquial/Abadia conhecida por “Cerca”, foi serrado por Manuel Maia natural do concelho de Amarante (pai de Eduardo Maia, entre outros), talvez coadjuvado pelos conterrâneos da mesma região minhota, Deolindo de Sousa e irmão “ Deolindo Serrador”. Dado o anormal porte da árvore, a gente da aldeia de então dizia que ele não o conseguiria serrar.

Esse mesmo pinheiro manso, conhecido por todos por “pinheiro grande”, derrubado pelo tal grande ciclone de 1941, onde era necessário quatro homens para o abraçar, recolhia dois rebanhos de gado por debaixo da sua copa e, era tão alto, tão alto, e de enorme porte, que se avistava a vários quilómetros de distância. O tronco foi comprado na totalidade ou parte dele pelo carpinteiro de então  Benjamim dos Anjos Picamilho, ex-Presidente de Junta de Freguesia. Quando à restante lenha, consta ter dado para o dono, neste caso “Casa Paroquial/Abadia” presidida na altura pelo pároco e abade João Ferreira para todo o ano e até mesmo sobrado para o ano seguinte, assim como ainda oferecida alguma e até outra roubada pelos mais podres e necessitados.

Contou-me pessoalmente o filho Raul Picamilho, que chegou a dar 17 carros de bois de madeira e outros tantos de lenha e que foi todo serrado e traçado com um serrador puxado por quatro homens. Acrescentou ainda, que o seu irmão Aniceto, entretanto já falecido, carpinteiro de profissão como seu pai, ajudou nessa tarefa e ainda, que uma das duas caixas de madeira de armazenar centeio da casa de seus pais, com a capacidade de mais de cem alqueires, foi feita com tábuas desse pinheiro; caso raro, pois normalmente eram todas fabricadas com tábuas de madeira de castanho velho, dado o diâmetro largo dos troncos.

Nessa mesma curva e/ou cruzamento do “pinheiro grande”, foi até por volta de meados da década de 60, um local de passagem de contrabandistas e contrabando, entre outros na freguesia, negócio pedestre vindo de Espanha, local onde alguns menos escrupulosos agentes da autoridade e até mesmo um ou outro regedor pernoitavam escondidos, para tirar e/ou roubar o fardo das costas de algum pobre que por lá passava.

Noutros tempos na nossa aldeia houve uma família que se destacou na arte da carpintaria e marcenaria, especialista em tornear a madeira como ninguém. Foi a família Mata, conhecida também pelos “Xamorros”. Os maiores especialistas na arte de marcenaria eram António José da Mata e o filho António Augusto da Mata, avô e pai de Adriano e de António Garcia da Mata, também primos dos Matas e dos Moreiras “Pedreiros” (Ricardo, José, Marina, Filomena e “Periquitos”, etc.) e ainda o sobrinho Mariano da Mata. Esta família de carpinteiros e marceneiros era muito grande, onde todos eles sabiam tornear a madeira.

Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, essa família de carpinteiros e marceneiros chefiada por António José da Mata, eram também bons artífices em serviços de marcenaria de arte sacra, que entre outros serviços, ajudaram a construir ou reconstruir, a Igreja de Vilartão, e também a construir e reconstruir várias obras da nossa igreja matriz, como, por exemplo: a cruz em madeira que se encontra por cima do arco, entre os Altares do Sagrado Coração de Jesus e da Senhora do Rosário. Ainda é visível a assinatura desse carpinteiro esculpida em algumas obras da igreja. A carpintaria e a arte sacra da Capela da Quinta da Teixogueira foi feita por essa família que atrás referimos.

Só por volta do final da década de 1960, é que apareceu a primeira máquina de serrar e aparelhar madeira, pertenceu a António Patrocínio Teixeira, “ António Arrobas”, como é vulgarmente conhecido entre nós.

Até 1968, todos os carpinteiros e marceneiros da nossa aldeia trabalhavam ainda no sistema artesanal, ou seja, sem ajuda de qualquer maquinaria eléctrica. Referimos aqui alguns deles: O “Ti 79”; Mariano da Mata, António Augusto da Mata; Benjamim Picamilho;  Amador Augusto (Mador); Aniceto Picamilho e António do Patrocínio Teixeira (Arrobas) e Filhos.

Em 1968  António do Patrocínio Teixeira, que tinha regressado da ex - Colónia de Moçambique, abriu uma pequena carpintaria e serração de madeiras, num pequeno armazém em frente ao cemitério. Como já havia chegado a electricidade no ano anterior à aldeia, comprou então a primeira máquina de aparelhar madeira e uma outra de serrar. A carpintaria já não se encontra neste local, mas sim no Bairro da Maceira ou Maçaira, desde 1977.

As primeiras Moto-serras de cortar madeira, chegaram a St. Valha, por volta de 1970. Pertenceram aos Senhores: Manuel Nascimento Barreira, António Patrocínio Teixeira e Gilberto Simão Castro Domingues.

O primeiro “Rachador” de lenha, de fuso, movido a tractor, pertenceu a Gilberto Simão de Castro Domingues, por volta de 1976/1977.

 

Sapateiros e Sóqueiros: Na década de 1950, havia os seguintes profissionais: Sapateiros: Francisco “ Boica”, Zé Cavalheiro e Armando ... “Sapateiro”. Sóqueiros: Agostinho do Calvo, Zé “da Deolinda” Rafael do Calvo e Augusto Ervões. Hoje (2012), só temos um profissional a trabalhar na arte de sapateiro, Fernando Martins Rôlo, mas só nos tempos livres, por não existir serviço que justifique a tempo inteiro.

 

Alfaiates e Costureiras:

Dada a densidade populacional da nossa freguesia, existiram sempre Alfaiates e Costureiras. Recordamos aqui alguns destes, a partir da década de 1950:

Lafaiette Alves; Manuel Guedes; Manuel Alfaiate e sobrinho António; Armindo Picamilho; Fernando Farias; Fernando Mosca Pires “Nascimenta” e Toninho Carneiro. O último a exercer a profissão foi  Fernando “Nascimenta”, na década de 1980. O costureiro Fernando Faria(s), ainda hoje (2010) conserva uma prestigiada alfaiataria na zona de Lisboa.

Atendendo à fama de bons alfaiates, passaram por Stª. Valha também vários aprendizes de outras freguesias do concelho (por volta de 1943), como: João Pimenta, Marta, etc.

Modista: Maria Augusta Ribeiro – Costureiras: Laudemira da Cunha (Cagigal) e suas filhas: Carlota e Benvinda da Cunha Cagigal; Judite de Castro; Laurinda Alves Nogueira; Lucinda Cardoso; Irene Gonçalves; Fernanda Pereira Neves; Deolinda Atanázio e Helena Barrosão. Desta profissão, hoje (2010) só resta a trabalhar na arte, Helena Barrosão.

 

Barbearias e Barbeiros:

Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, chegaram a existir na nossa terra, meia dúzia de barbeiros. Recordamos os nomes de alguns destes: José Maria Cagigal, que emigrou para o Brasil no início da década de 1950; Manuel dos Santos; José Teixeira “Zé Arrobas”; Manuel e Teófilo Mairos, e os irmãos, João, Toninho e Arménio Vieira. Em finais da década de 1980, só já trabalhavam na arte, Arménio Vieira e Manuel Mairos. Hoje (2010), na aldeia, só existe um jovem que vai fazendo esporadicamente uns cortes de cabelo, particularmente a alguns familiares e amigos, Fernando Martins Rôlo, fruto da modernidade de agora, e da facilidade de deslocação à sede de concelho.

Até finais da década de 1970, o pagamento da avença ao barbeiro pelo seu trabalho anual, não era feito em dinheiro, mas sim em géneros, como, por exemplo cereal (centeio). Dependia sempre da quantidade de pessoas da casa a cortar o cabelo ou barba, mas nunca excedia um ou dois alqueires. Eram, nesse época, muito poucas as famílias com posses para pagarem em dinheiro e mesmo o justo valor pelo trabalho ao longo do ano, já que nesse tempo, cada casa, tinha em média, três ou quatro homens (pai e filhos).

 

Ferreiros (Forjas), Serralharias e Ferradores:

Em Santa Valha chegaram a existir quatro Ferreiros: António Morais, conhecido também por António “Pedro”, Amândio Morais, conhecido por Amândio Ferreiro, José Cagigal, e os Irmãos Chelas.

António Morais teve a primeira “Forja”, como vulgarmente eram conhecidas, no bairro do Pontão, numas instalações da falecida Dª. Helena Lobo, perto do largo principal, e a segundas e últimas, numas instalações revestidas a madeira anexas de sua casa, situadas na agora casa de habitação de sua filha e genro Fernando Alves. Por motivos de idade um pouco já avançada e por falta de seguidores, encerrou a actividade no início da década de 1970.

O segundo, Amândio Morais, teve a sua “Forja” instalada num baixo da rua que dá acesso ao bairro dos Ciprestes, agora casa de Domingos Serafim Mosca Pires. Deixou a actividade nos primeiros anos da década de 1960, por ter emigrado para os Estados Unidos da América. Ouvimos falar d o falecido senhor Gumesindo Barreto Fernandes, como seu ajudante voluntário em dias que não havia jeira, particularmente no manejo do enorme fole da forja, onde não era costume faltar por lá um vasilhame com vinho e até de vez em quando um petisco desse tempo para companhia.

José Cagigal, (visa-avô materno do Lilo), teve, até 1930, a forja no bairro dos Ciprestes, mais concretamente no lugar onde agora onde se encontra a casa de habitação de Henrique Araújo, em frente à casa de Lucinda Cardoso. Mais tarde, essa forja veio a pertencer aos (já falecidos) irmãos Chelas, António e Manuel Chelas. Atendendo à habilidade desses irmãos, já se faziam nessa indústria, alguns trabalhos de serralharia e outros concertos.

Eram as serralharias de outros tempos, mas indústrias de elevada importância para a comunidade da freguesia, onde a moderna electricidade, era substituída pelos braços humanos destes artífices, com muita força, para malhar no ferro em cima da bigorna e “bufar” e manobrar o enorme fole para acender e aquecer a forja a carvão. Nessa altura o carvão mais usado para acender diariamente a forja era o vegetal, feito pelos próprios nos montes e o de melhor rendimento era de torgo de urze. Provavelmente o de mineral, ou de pedra como lhe chamavam, custava algum dinheiro, e esse era escasso.

Serralharia Civil: A primeira e única existente até hoje (2012), abriu portas em 1979. Pertence a Fernando Gaudêncio Araújo (vindo da cidade do Cartaxo), no rés-do-chão da casa de Armando Tender. Em 1985, transferiu as instalações para a Casa da Padaria, na rua que liga a estrada à Freixa e, em 1999, para  o rés-do-chão da sua actual casa de habitação.

Os únicos ferradores que existiram  na nossa aldeia até hoje (2012) foram José Joaquim Teixeira e o filho Sousa, sogro e (primeiro) marido de Maria Cândida Contins, numa casa à entrada da aldeia na Avª. Principal, actualmente em ruínas. O pai exerceu a profissão até por volta de finais da década de 1940. O filho, menos habilidoso na arte, até meados da década de 50. Chegou ainda a haver nesse tempo na aldeia um ou outro mais curioso, que pouco mais fazia, do que meter/aplicar um arganel no focinho a um porco para não foçar, como João Fontoura etc.

Latoeiros:

Antigamente os almudes, cântaros, remeias, regadores, baldes, tachos, etc, eram todos eles fabricados em chapa de zinco. Na nossa aldeia não se consta ter havido nenhuma latoaria para reparar essas medidas e/ou recipientes. Esse trabalho era normalmente feito por um ou outro pobre ou até cigano que vagueava de terra em terra e o pagamento desse serviço era quase sempre em géneros. A latoaria ou latoeiro mais próximo era em Vilarandelo.

Peixaria, Peixeiros ou Sardinheiros:

Na década de 1980, existiu na nossa aldeia um comércio de venda a retalho de peixe, situado no largo do Bairro do Pontão, mas concretamente no rés-do-chão de uma casa de habitação, que pertenceu aos Herdeiros de José Joaquim Rolo. A proprietária do negócio foi sua neta, Manuela Rôlo, irmã de Agenor e Fernando, entre outros.

Por volta de 1968 ou 1969, Fernando Farias,  natural de Sonim, mas casado na nossa aldeia, alfaiate de profissão e o Cunhado Antenor, tiveram uma sociedade de venda de peixe ambulante, mas não durou mais que um ou dois anos. A alfaiataria e a banca da venda do peixe era na casa (alugada) de Fernando Farias, agora casa de habitação do falecido Senhor Lino, na Avª. Principal e contígua à ex-farmácia Almeida Sousa.

Para além do negócio do peixe, vendiam também frutas, legumes e até feijão seco “ ao quilo ” , novidade nessa época, produtos esses, que, por vezes, traziam do Porto juntamente com o peixe, onde o trajecto de ida e volta, só na viagem, demorava um dia completo. Chegaram também a vender frangos (tipo de aviário) à unidade que engordavam caseiramente num aposento da casa de familiares, no bairro de Santa Maria Madalena, perto da Capela.

A furgoneta da venda ambulante do peixe, foi também muito útil nesse tempo, nomeadamente para transporte do pessoal aos domingos e feriados de dia Santo, com destino a algumas festas e bailaricos de rua de aldeias vizinhas, tendo em conta que nesse tempo se contavam pelos dedos de uma mão os meios de transporte locais. O transporte da grande maioria para as festas, e vice-versa, nessa época, era normalmente feito a pé.

Até meados da década de 60, o peixe para a nossa freguesia, era transportado em caixas de madeira em cima de um animal de carga, normalmente um burro, e o mais consumido era a sardinha. A maior parte deste peixe já chegava ao consumidor (bastante) retardado, mas a pobreza era tanta para a grande maioria das famílias, que não deixava, cada uma, de ser partida ou repartida por duas ou até três pessoas da casa. Enfim! Miséria desse tempo, que nesse aspecto, não deixou recordações.

Lembro-me do nome de um habitual peixeiro que nos visitava semanalmente, o Gabino de Vilarandelo, homem alto, seco de carnes, meigo e afável. Com a sua corneta de metal avisava a sua chagada. Bom homem. Posteriormente o filho deu seguimento ao negócio. Outro de que se lembra muita gente até finais da década de 50, o ainda jovem Joaquim Rito, casado na nossa aldeia, que, com o seu burro carregado com a caixa de madeira em cima, ou por vezes às costas ou à cabeça da mulher, lá ia vendendo também nas aldeias vizinhas. Passaram ainda por esta pobre profissão, entre outros com suas mulheres (?): Ernesto Mairos, Augusto Ervões e José Domingues.  Fernando Moreiras (Pedreiro) e o José Mairos (Zé Malta), na quadra do Natal  por vezes faziam sociedade, ou seja: deslocavam-se  a Matosinhos com a furgoneta de Fernando Pedreiro comprar uma carrada de polvo de cura seca ou meia-cura e mais algum peixe para negócio. Disseram-me que conseguiam vender tudo rapidamente na quadra do Natal na nossa freguesia e vizinhas.

O povo chamava estes vendedores de sardinheiros, tendo em conta que eram as sardinhas, o peixe mais negociado; É claro! por ser o mais barato. A seguir o Chicharro. A sardinha era vendida à unidade ou ao quarteirão, este equivalente a 25 sardinhas. Em geral poucos eram os sardinheiros que tinham  balança para pesar.  O chicharro era vendido à unidade, onde, por vezes, dois ou três custavam cinquenta centavos (uma coroa). O quarteirão das sardinhas rondava os dois escudos e cinquenta centavos (0,025 €), ou até menos, quando não era trocado a centeio (pão) ou chicharros por falta de dinheiro. O Local na aldeia onde era costume vender, para além do porta-a-porta, por vezes com a caixa às costas ou coadjuvados pelas mulheres com a caixa à cabeça, era na nas Adufas junto ao velho cruzeiro, agora em frente à garagem de Mariano Domingues.

Aviário de Santa Valha:

Essa sociedade familiar pertenceu aos irmãos: Agostinho, Fernando, Gentil e Domingos Mosca Pires. O aviário foi construído perto da estrada á saída para Pardelinha. Ainda existem hoje essas instalações, agora divididas em várias dependências para recolha de produtos agrícolas da família. Essa actividade de engorda de frangos, novidade na época, teve início por volta de 1976 e terminou três ou quatro anos mais tarde atendendo a uma elevada subida dos custos de produção, particularmente nas rações

 

Talhos ou Açougues:

Até meados da década de 80 sempre existiram na nossa aldeia lugares de negócio de carnes frescas, nomeadamente de vitela, cordeiro e carneiro, denominados até essa época de talhos ou açougues. Há muita gente que se recorda deles no bairro dos Ciprestes, no baixo da casa de Fernando Castro, entre outros e, na praça, num armazém onde agora se encontra o coreto.

 Neste último século o principal açougueiro da nossa aldeia foi o falecido Amadeu Moreiras, mais conhecido por Amadeu Pedreiro. Chegou a ter uma sociedade durante bastante tempo com António Teixeira, comerciante também já falecido. Amadeu Moreiras teve este negócio em vários baixos de habitações, espalhadas pelos bairros Ciprestes e Igreja. Também seu irmão Fernando “Pedreiro” e ainda ou pessoas, tais como: Adolfo Simão e Benjamim Picamilho, José Rolo e Mário Augusto Fernandes em sociedade, José (Zé) Ribeiro, entre outros, tiveram negócios de talho. Os animais eram mortos no local e preparados pelos próprios.

Ouvi dizer ainda a pessoas desse tempo, que nessa altura, se gastava muita carne porque havia muita gente em toda a freguesia e que os piores pagadores eram os ricos, os que mais consumiam. Atendendo a que havia muito pouco dinheiro a circular, particularmente nas mãos da maioria que eram os jeireiros, quase toda a gente pedia para apontar a despesa no livro de fiados para mais tarde pagar, mas que havia também quem tivesse dinheiro, particularmente lavradores com posses, que pedia fiado e deixava calote.

Nessa época, como não havia frigoríficos não se podia comprar muita carne, também o dinheiro abundava pouco ou quase não existia, principalmente nos bolsos da maioria do povo. A única que se não estragava era a de porco salgada, normalmente (de)pendurada em espetos de ferro junto ao tecto da adega ou outro lugar mais fresco da casa, para a resguardar da bicharada, principalmente dos gatos e ratos.

 

Indústria de Mármores e Granitos:

A primeira e única indústria de transformação de mármores e granitos da nossa aldeia, fundada em Julho de 1994, continua a ser do conterrâneo Manuel Joaquim Dias. Regressou de França nessa data como emigrante e num anexo da sua casa de habitação, montou as primeiras máquinas de corte e transformação. Atendendo ao aumento do volume de negócios, no ano de 1999, construiu as novas e actuais instalações, no Bairro da Maçaira.

Farmácia :

Inicialmente (13/03/1989) abriu como Posto de Farmácia, da Farmácia Paula de Valpaços, nas instalações do rés-do-chão  da Sede da Junta de Freguesia. Em 31/10/2003, por força da Lei em vigor, este Posto de Vendas teve que encerrar. Na semana anterior ao fecho abriu ao público a farmácia, em instalações próprias, situadas na Avª. Principal, em nome de outro proprietário – Farmácia Almeida Sousa -. Encerrou em finais de Junho de 2009, para se transferir definitivamente para Valpaços.

Santa Valha - 01-03-2011

(Última actualização em 01 de Março de 2015)